Na Hora Certa

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Ele vinha a observando já há algumas semanas e naquele momento ele já até tinha memorizado sua rotina diária.

7h30 – Acorda para tomar banho.

Na Hora Certa8h00 – Dirige até o Starbucks para tomar um nojento xarope açucarado, com um pouco de leite.

8h30 – Chega ao escritório.

11:45 – Hora do almoço – apenas uma salada de refeição, exceto nas quartas-feiras. É quando ela vai conversar com a garota negra do RH na cafeteria do outro lado da rua, apenas para conversarem coisas de garota.

E assim por diante…

Não foi difícil memorizar sua rotina. Ele notou que ela era fielmente escrava de seus caminhos. O tipo de pessoa que normalmente não se afasta de sua agenda. Isso era bom para ele. Seus hábitos previsíveis tornaram fácil de planejar um assassinato praticamente sem esforços.

Ele verificou a hora em seu relógio e estacionou o sedan roubado em frente sua casa naquela noite.

22:35

Isso significava que ela terminou de assistir televisão. Provavelmente um daqueles realities shows de merda, ele pensou para si mesmo. Se ele tivesse que arriscar um palpite, ele diria que ela estava escovando os dentes agora. Em dez minutos ela estaria no chuveiro e depois disso, hora de dormir.

Exceto se… Ele deu um sorriso. Ela não conseguiria chegar até a cama essa noite.

Apenas mais alguns minutos e tudo que ele planejou cuidadosamente iria se concretizar. Ele deixou os dedos escorregarem entre suas pernas. Seu pênis tinha ficado duro em antecipação.

Disse a si mesmo que merecia o que estava prestes a conseguir. Todas suas vítimas mereceram. Claro, nenhuma das mulheres que ele estuprou e matou tinha feito algo que atravessasse seu caminho diretamente, mas isso não importava.  Era esse tipo esse tipo de mulher que o fazia sentir mal. Putinhas promíscuas em seus 20 ou 30 anos, dedicadas e adiantadas na carreira, leva a profissional acima de relacionamentos sérios e idolatra as prostitutas geriátricas de Sex and The City.

Mulheres como ela não percebem homens como ele, mas não era como se ela estivesse ocupada demais para conhecer homens. Nas três semanas que ele estava a perseguindo, ela tinha aberto as pernas para dois sujeitos diferentes. Eles pareciam verdadeiros douchebags também – o tipo de cara que usam aplicativo de namoro para conhecer garotas. O fato dela foder com homens assim fazia ele sentir ainda mais ódio,

Seu relógio agora mostrava 22h47. Ela estaria no chuveiro agora. Das 10h45 às 23h02, aqueles foram os minutos de ouro. Sua janela dava a oportunidade. Ele tinha decidido que o melhor momento para invadir o lugar era quando estivesse ocupada tomando seu último banho. Ele pensou sobre seus seios por um minuto e imaginando como devem ser vê-los de perto. Novamente ele alcançou a dele até sua virilha, desta vez segurando firmemente. De alguma forma seu pau estava ainda mais duro. Ele abriu a porta do lado do motorista e foi para parte de trás da casa.

Tinha chovido forte naquele dia e agora o ar estava insultantemente fresco. Ele jurou que podia sentir o cheiro do oceano que estava a oito milhas de distância. Parte dele desejava que o tempo não estivesse limpo. Havia algo específico sobre o som de chuva pesadas caindo nele. Como se estivesse abafando o rugido da existência e trouxesse a ele algumas horas de harmonia ao mundo.

O lote na parte de trás da casa era tão pequeno que ele poderia esticar os braços e pular a cerca que deveria servir para proteger o local. Havia uma pedra falsa embaixo da roseira do quintal. Embaixo da pedra estava a chave para o pátio. Ele sabia que estaria lá porque ele viu ela pegando de lá antes, mesmo que não levaria muito tempo para alguém descobrir algo de diferente no quintal.

– Puta Merda – Ele sussurrou para si mesmo – Você acha que ninguém suspeitaria de uma pedra falsa dessas? Puta idiota, você realmente merece ser fodida.

Ele se inclinou e retirou a chave do minúsculo compartimento da pedra falsa, depois lentamente e silenciosamente destrancou a porta do pátio e entrou. Ele estava na cozinha agora. Até agora tudo estava saindo exatamente como ele esperava, mas isso não era surpresa para ele. Afinal, ele estava se preparando há semanas para essa noite.

Ele sempre planejou seus assassinatos meticulosamente. O último lugar que ele queria era a prisão. A maioria dos assassinos em séries faz pela fama. Eles deixavam pistas e cartões telefônicos para que pudessem ler sobre si mesmo no jornal. Eles  queriam ver os formadores de opiniões falando sobre eles em programas de TV e quando fossem pegos, queria se tornar celebridades. Mas ele não. Ele só queria mutilar e torturar o maior número possível de pessoas. Ser preso arruinaria toda a diversão e ele mal tinha começado a brincar.

A mulher no chuveiro seria sua nova vítima, mas depois haveria mais que precisam morrer. Muito mais. Metade da raça humana, se necessário.

Ele passou da cozinha para a sala de estar. O tapete foi marcado pelas solas molhadas de seus sapatos conforme ele andava a frente. Ele se moveu na casa sombria como um fantasma. A escuridão era sua amiga e ele era um monstro escondido nela. O som do chuveiro estava mais alto agora. Vinha do segunda andar. Ele parou na base da escada e olhou para cima. Uma luz amarela estava escorrendo por debaixo da porta do banheiro no andar de cima.

Aquela famosa cena de Psicose sangrou em sua mente. Ele supôs que salta-la no chuveiro era um pequeno clichê, mas pelo menos ele não iria usar uma faca. Não, ele preferia estrangular as mulheres. Era assim que ele preferia fazer.
Ele subiu as escadas o mais silenciosamente possível. Não havia necessidade de verificar sua virilidade uma terceira vez. Ele sabia que estaria pronto para meter nela quando chegasse a hora. E excitação estava começando a surgir de dentro dele, mas assim que ele chegou à porta, uma súbita pontada de pânico disparou através de seu corpo.

A porta! E se ela estivesse trancada.
Se ela o ouvisse tentando abrir a maçaneta, então ela poderia gritar. Todos moradores próximos poderiam facilmente ouvir seus gritos de ajuda. Mesmo que ninguém chamasse a polícia, as pessoas estariam olhando pelas janelas para ver quem saía da casa, talvez até mesmo tirando fotos em celulares. E se tirassem uma foto clara dele? A polícia o identificaria assim que o corpo da vítima fosse encontrado depois de sua hora de diversão.

Como ele poderia ter sido tão descuidado?

Ele pensou em se virar e descer as escadas. Sempre haverá um amanhã. Se ele estava silencioso ele poderia simplesmente voltar. Então algo mais ocupou sua mente. O homem da cercearia de dois dias antes – Na qual ela estava se assanhando pra cima dele. Semanas antes que ele tinha ido falar com ela e ela ao menos olhou direito pra ele antes rejeitá-lo. Ela provavelmente estaria lá agora pensando no outro homem.

Não, ele decidiu para si mesmo. Ela não iria realizar essa fantasia com outro homem.
Ele envolveu os dedos em torno da maçaneta da porta. O metal parecia gelo contra sua pele. A sensação de seu coração batendo violentamente em seu peito era tremendamente evidente para ele. Ele inspirou profundamente. Se a maçaneta não abrir, ele quebraria a porta. Com um pouco de sorte ele poderia entrar no banheiro e agarrá-la pela garganta antes que ela pudesse soltar um grito.

Ele torceu o pulso meio polegada para esquerda e a maçaneta girou com ele.

Perfeito.
Um suspiro triunfante saiu de sua boca.

Toda sua preocupação tinha sido em vão. A porta estava destrancada.
Ele se amaldiçoou por um erro estúpido, então virou a maçaneta até o fim e abriu a porta lentamente.

O chuveiro soava alto agora, como uma televisão analógica sem sinal. O ar era espesso dentro do banheiro cheio de vapor que praticamente podia se mastigar no ar.

Cautelosamente ele foi pisando, tomando cuidado para não escorregar sobre os azulejos molhados de condensação.

Ele se moveu lentamente, mas com um propósito. Concentrando-se em seu alvo. Seu pau estava praticamente pronto para estourar através de sua calça jeans.

Sua cortina opaca, bege do banheiro tinha um projeto cor-de-rosa e florido costurado nele. Era o tipo de lixo sem gosto que uma mulher como ela penduraria no banheiro. Seu foco era mais intenso do que nunca, ele andou mais perto e estava parado bem em frente a cortina. Ele estendeu a mão para a cortina do chuveiro, mas sentiu repulsa ao tocá-lo.

Havia algo de errado ali.

O chuveiro estava funcionando. Como a chuva mais cedo naquele dia, aquele som de ruído dominou seus ouvidos, mas desta vez ele não achou reconfortante. Ele chegou a um pensamento que fez sentir um frio na barriga. Com exceção do som da constante agua caindo do chuveiro, não havia outros ruídos vindo do outro lado da cortina. Ninguém cantarolando, sem splash de shampoo caindo, nada. Era como se estivesse sozinho no banheiro com o chuveiro ligado.

Mas então porque o chuveiro estava ligado? Ele olhou para seu relógio, mostrava 22h58. Ela tinha que estar lá. Nas últimas 3 semanas, todos os dias, nesse mesmo horário ela estava no banho e terminava exatamente às 23h02.

O ruído do chuveiro parecia mais enlouquecedor agora. Ele estava em frente a ele ouvindo, esperando ouvir algo mais, qualquer coisa emergindo do outro lado da cortina. Mas nada. Com a mão trêmula, ele estendeu a mão para cortina, segurou firmemente e então em um movimento rápido e súbito ele empurrou a cortina do banheiro.

A mulher estava de fato no chuveiro, seus olhos arregalados e reluzentes. Eles cintilavam o terror. Seu rosto em pânico total parecia que estava preparando para um grito, exceto pelo fato que ele sabia que esse grito nunca sairia de boca. Porque não? Ela já estava morta – muito sangue escorria para o fundo da banheira. Alguém mais tinha chegado antes dele pelo olhar dela. Mas esse não parecia se importar com clichês de filmes.

Seu assassino tinha a esmigalhado com uma faca. Cada um de seus dedos dos pés tinha sido removido e em suas pernas e estômago havia cortes profundos, a ponto de ver até os ossos da mulher, Por um momento ele se perguntou se ela ainda estaria viva quando seu agressor esfolava sua carne. Ele desviou o olhar, tentando desviar os olhos. Foi quando ele viu algo gelatinoso cor-de-rosa ao lado do ralo. Ele olhou curiosamente para ela. Não foi até que ele olhou e volta para mulher que ele percebeu que seu assassino tinha removido um dos silicones de seu peito e deixou na banheira drenando junto ao sangue.

Ele não tinha planejado isso. Ele tinha pensado em todos imprevistos que poderia acontecer, mas ele não imaginou isso acontecendo dessa forma.

Sua mão afundou em seu peito devido ao susto. Ele se virou para sair, mas parou abruptamente quando olhou no espelho do banheiro. Havia uma frase escrita nele, uma sequência de letras vermelhas manchadas através da superfície do vidro. Ele estava tão focado no chuveiro mais cedo que ele nem tinha notado. Ele leu as palavras. E curto e direto, mas enviou uma terrível sensação de pavor por todo seu corpo porque – isso era algo que ele tinha certeza – a mensagem foi escrita para ele.

“NA HORA CERTA.”

A umidade do banheiro estava fazendo que a frase escorresse o sangue. Era uma sensação estranha. O calor fumegante caindo do chuveiro em combinação com sua cabeça tonta fez tudo parecer irreal – Quase se estivesse experimentando um sonho bizarro.
Ele abriu a porta e uma onda de ar frio bateu contra seu rosto. Com ela veio uma dose pesada da realidade.

Não era coincidência que a mulher que ele estava perseguindo foi assassinada na mesma noite que ele decidiu agir. Não, o outro intruso escreveu essa mensagem para ele. Todo o tempo que ele estava perseguindo a mulher, alguém estava perseguindo ele. Enquanto ele planejava a morte da mulher, alguém já planejava a sua.
Ele não saiu correndo do banheiro. Ele galopou para fora dali. Parecia que a escada, de alguma forma, se movia a uns centímetros do corredor. As sombras não serviam mais como seu esconderijo. Havia um novo monstro e estava vindo para ele. Suas pernas param de funcionar assim que alcançou o topo da escada, fazendo com que ele caísse no corrimão. Com toda a força ele se ergueu de pé.

O que havia acontecido?

Alguns segundos depois uma dor abrasadora em suas costas respondeu essa pergunta. Ele estendeu a mão e agora sengo algo saindo, como se fosse um frio quisto metálico que de repente brotou de sua espinha. Havia pressão agora empurrando para baixo na parte de trás de sua cabeça.  Uma mão o forçava para uma posição desamparada, ajoelhado sobre o corrimão.  Por um segundo sentiu como se tivesse levitando enquanto olhava lá de cima para o chão da sala a alguns metros abaixo. Então veio outra dor abrasadora ainda pior que a primeira. Lentamente, alguém tinha começado a puxar a faca de seu corpo. Sentia sua ferida sendo rasgada, como se alguém tivesse acabado de fazer da mesma maneira que ele usou em suas vitimas.

Quão grande era a lâmina? Quão profundo ela tinha sido cravada? Parecia que demorava muito para ser removido. Uma vez que finalmente estava fora, ele podia sentir o ar fresco e corajoso do corredor insultando sua lesão enquanto lambia a abertura em suas costas. Ele tentou se por de pé, mas antes que ele pudesse alguém pisou contra seu tornozelo. Instantaneamente ele soltou do corrimão. A sala de estar girava em torno dele enquanto ele caia no chão. Ele caiu batendo suas costas contra parede e soltou um gemido.
Não havia duvida que sua mente não raciocinava como antes.

Ele olhou para cima e viu a figura de um homem rastejando escada abaixo em quatro patas como um animal e ele se perguntou se estava em um pesadelo.

A única coisa que ele conseguia distinguir era o cabelo espesso de seu perseguidor, até mais negro que a meia-noite e mais selvagem do que qualquer selvagem.

Perguntas desesperadas ocupavam sua cabeça.

O que é isso? Jesus Cristo, que diabos é aquela coisa?

Ele observou silenciosamente enquanto o homem, o animal ou a coisa que o atacara chegava ao degrau inferior e se erguia em dois pés, desenrolando sua espinha como uma cobra dançando para um encantador de serpentes.

A cabeça desgrenhada de cabelos escuros e emaranhada se virou em sua direção e agora ele podia ver um rosto – um rosto humano – Ou pelo menos costumava pertencer a um ser humano. Seu assediador tinha um terrível sorriso esquelético – Sem lábios e um conjunto de dentes brancos que contrastavam amargamente o vermelho de suas gengivas. Como um cadáver apodrecido, não tinha nariz e sua pele parecia branca como a neve em noite de luar. Em sua mão ele segurava uma faca de oito polegadas revestida de sangue.

Ele começou a deslizar novamente para perto, o observando através de um par de olhos amarelados e sem pálpebras. Parecia quase uma pessoa que estava fantasiada para o Halloween. Um adolescente ou jovem talvez.

Vestia calças pretas e uma blusa branca manchada com o sangue ainda fresco da mulher no banheiro.

Ele ainda tentou se levantar, mas o assassino colocou o pé no peito dele o prendeu no chão, agachou em cima dele e colocou a ponta da faca contra seu abdômen. Mal sentiu a faca penetrar no estomago, mas quando ele virou a lamina dentro dele, uma sensação de calor ardente inchou em todo seu núcleo. Ele olhou sem pestanejar para os olhos da coisa horrível enquanto sua visão começava a desaparecer. A última coisa que ouviu foi sua horrível voz – tão repulsivo quanto seu rosto.

– Vá dormir!

Ele decidiu não lutar mais, era inevitável. Ele fechou os olhos e deixou a escuridão leva-lo.

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